Esta obra vem demonstrar como alguns dos melhores revestimentos azulejares portugueses, situados entre o Barroco dos séculos XVII e XVIII e a contemporaneidade, conferem a espaços actualmente vocacionados para o serviço gastronómico um singularíssimo carácter. De António de Oliveira Bernardes a Eduardo Nery e Querubim Lapa, entre outros, o livro questiona-nos sobre a intimidade das relações entre as artes decorativas e a vivência lúdica dos manjares e vinhos. A partir de uma selecção judiciosa de dezassete espaços de restauração decorados com bons revestimentos cerâmicos, entre o Minho, o Douro, Lisboa, e o Alentejo, e que são estudados por quinze estudiosos do azulejo, o livro oferece uma viagem surpreendente pela arte em complemento da mesa – e pelas especificidades da mesa em complemento da arte. Estes restaurantes são espaços onde, como se diz na introdução, «as experiências gastronómicas se cruzam com a história da azulejaria portuguesa, numa descoberta deliciosa». Como que parafraseando Fernando Pessoa, primeiro estranha-se a relação entre azulejaria e degustação; depois, essa relação entranha-se em osmose articulada e consistente. Parabéns aos coordenadores deste livro belíssimo, servido por esplêndidas fotografias e que sai em cuidada edição bilingue.

Vitor Serrão, 17/Outubro/2017