Introdução
“Um prato de salada onde as coisas se
misturam”
Dizia Indira Ghandi, a ex-primeira ministra, para ilustrar a diversidade
da Índia, um país que não pode ser reduzido a um ou outro cliché
extremo. Made in Índia é um menu para entender o «eco-sistema»
económico, social e geopolítico da democracia mais populosa do mundo,
bem como as oportunidades geradas pela revolução económica iniciada em
1991. Oportunidades, mesmo ao nível pessoal – faltarão 500.000
profissionais por ano para empregos qualificados até 2010.
Quando Vasco da Gama, ao fim de um ano de viagem, avistou Calecute, em
17 de Maio de 1498, andava à procura de um tal «Prestes João das
Índias», que, jamais, acharia. Mais do que o «descobrimento» de um
caminho marítimo, com a chegada à Índia, os navegadores portugueses de
Quinhentos deram o pontapé de saída da primeira vaga de globalização,
que marcaria o declínio do Oriente e a emergência das primeiras
potências ocidentais globais. Nos 450 anos que passaram de permeio, os
ocidentais retiveram da Índia as especiarias, a «jóia da Coroa»
britânica, a miséria chocante, o Kama Sutra (Kamasutram,
aforismos sobre o desejo), o Taj Mahal, o banho no Ganges e a figura
ímpar de Ghandi. A Índia ficou reduzida a um conjunto de clichés e
postais ilustrados que deixaram os europeus distraídos.
Subitamente, no novo milénio, o mundo ocidental ‘redescobriu’ a Índia.
Primeiro com os call-centres e os programadores baratos,
depois com a implantação de centros de investigação pejados de
cientistas e a emergência de Bangalore – considerado o Silicon Valley da
Ásia – ou de Bollywood (o maior centro de produção cinematográfica do
mundo). Ou, mais prosaicamente, como destino para uma cirurgia barata e
para um pulo ao Taj Mahal ou ao paraíso turístico e gastronómico de Goa.
Mas, a globalização não tem um único sentido. Os europeus e
norte-americanos aperceberam-se com algum atraso que, só no último ano e
meio, as multinacionais indianas já investiram 10 mil milhões de dólares
em fusões e aquisições no estrangeiro. A aquisição recente mais
mediática foi a do gigante europeu Arcelor. Também noutros campos menos
falados, como o militar e o geopolítico, muito há a compreender. O livro
está bem recheado de informação para o leitor ajuizar.
Made in Índia, mais um livro da série sobre as economias
emergentes, iniciada pelo Centro Atlântico com a publicação de
Made in China (de Zhibin Gu), é uma obra
de autor do próprio país, escrita com base na visão e na cultura de um
insider, à semelhança do que ocorrera com o título anterior.
Índice
OS SEIS HOMENS CEGOS E O ELEFANTE
DEDICATÓRIA
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
O véu de Leviatão
8 mitos relacionados com o acordar do
elefante
CAPÍTULO 1 |
ANUNCIADO A NOVA ECONOMIA
|
Mais um som de sucção gigante |
Um eufemismo para designar perda de trabalho
|
Uma escolha difícil:
outsourcingou
morte! |
A ‘verdadeira’ arma de destruição em massa
|
Alterando a forma do mundo: outra grande
deslocação |
Peritos sem palavras: «Alguma solução há-de
aparecer» |
Não julguem que é o antigo som de sucção
|
O processo não é ‘novo’, mas a sua dimensão é
|
Oportunidade ou perigo: as limitações da redução
de custos |
A ameaça demográfica |
Os empregos não estão a regressar |
Se não consegues vencê-los, há que bani-los – ou
tentar fazê-lo |
Dê ou fique com algum |
Soma zero ou pior: Índia e Indiana |
Esgrimindo com a Internet? |
Uma nação de ‘gatos gordos’ e de cabeleireiros?
|
Aumentando a temperatura |
Escondendo a pele do elefante |
Tempestade infi ndável |
O offshore fechado
no armário |
A nova nova recuperação económica |
A rampa de saída da História
|
CAPÍTULO 2
|
DO BACKOFFICEÀ BIOTECNOLOGIA
|
Como o elefante está a jogar para ganhar
|
Mãos ocultas por todo o lado |
Muito mais do que um backoffice
|
Mostrem-me o dinheiro: em direcção aos serviços
fi nanceiros |
Da gestão na base do Six Sigma até ao Call
Centre |
Na vanguarda médica: alguém precisa de uma
operação ao coração? |
A guerra dos medicamentos: uma nova fronteira
para os empregos qualificados |
A velocidade da revolução BPO |
Espaço em cima e em baixo |
Fechando a torneira. Estancando a inundação?
|
A força do elefante |
CAPÍTULO 3
|
A EMERGÊNCIA DE UM TITÃ NO SOFTWARE
|
O declínio da América e da Europa é apenas uma
questão de tempo |
Alguns números: os elefantes também galopam
|
País recente no sector – de modo nenhum
|
Os anos 1990: silenciosamente o boom
desvela-se |
A presença na Índia de multinacionais das TI na
década de 1990 – oportunismo ou distracção |
As roupas novas do Imperador: a grande recusa em
ver o óbvio |
1998-2001: O aviso – prepare-se para a próxima
vaga |
Um novo laboratório Bell em apenas dois anos
|
Como as empresas indianas estão a jogar uma
cartada alta |
Muito mais do que o preço, é a qualidade que
torna este processo irreversível |
Competência e dimensão: as estatísticas vitais
do elefante |
Grandes negócios vão a público na Índia
|
Não é apenas uma repercussão, a onda continua
|
Capitais de risco ao rubro |
De ponta a ponta e de cima para baixo
|
O tamanho importa: o repensar da indústria
global de TI |
As pequenas empresas também estão a ‘abanar’ o
terreno global |
As empresas indianas começam a efectuar as suas
primeiras aquisições além-fronteiras |
Pensar global? Talentos locais juntam-se às
equipas indianas |
CAPÍTULO 4
|
DEFINITIVAMENTE CHEIRA A CARIL
|
Assumindo a paternidade do Pentium |
As primeiras ‘mãozinhas’ indianas: Sun, Oracle,
Novell |
Praticamente metade do Silicon Valley... e
continuando a crescer |
As porcas, os parafusos e a engrenagem da
Internet |
Ultrapassando a fronteira da tecnologia: abrindo
caminho na finança |
A Diáspora de Ouro e o paladar a caril na
política |
CAPÍTULO 5
|
O CRESCENTE PESO DO ELEFANTE
|
Alterando os parâmetros |
O futuro das taxas cambiais |
inco distritos da Califórnia… ou a quarta maior
economia do mundo |
TI: mais do que meros exportadores |
Entrar na Era Dourada: preparar para o arranque
|
A estabilidade e os seus congéneres políticos
|
dia Inc.: novos predadores ‘ganham músculo’ |
Numa posição de vantagem |
A alavanca de modernização de uma classe média
composta por 300 milhões... |
Adiantada em relação ao previsto: a
infra-estrutura ferroviária da Índia |
Meio bilião de dólares para infra-estruturas
|
comodando o elefante |
Tangos solitários, não! A Índia joga duro
|
Índia e China: a escolha centenária da Ásia
|
A sustentar os «colarinhos brancos» está a
globalização da indústria |
As empresas do mercado automóvel: em direcção à
Europa, aos EUA e mais além |
Outras empresas indianas procuram a expansão
|
Combustível para a ascensão do elefante preocupa
a Shell |
Um impacto abrangente e dualista |
«Onda Azul» dá nova cor ao debate da
deslocalização dos «colarinhos brancos» |
O elefante prepara-se para a última fronteira
tecnológica |
Faça você mesmo: a reacção às sanções dos EUA
|
Pronta para competir por uma parcela no mercado
de armamento |
Mudança no equilíbrio de poderes |
Nada de arrogâncias: dominando as TI para
liderar e controlar |
ma Índia que também pode dizer que não
|
Levantar a Ankoora: a dificuldade de prender o
elefante |
Um elefante em movimento: 2003, o ano da Índia
|
A aliança estratégica entre a Índia e os EUA:
eperança ou inevitabilidade |
Aliança ou defesa de interesses próprios?
|
Agitando os estereótipos: revertendo a grande
omissão |
CAPÍTULO 6
|
REGRESSO AO FUTURO – O CONTEXTO INDIANO
|
Será que 200 anos de História estão a reverter
para civilizações com 5.000 anos? |
Rumando em direcção ao roubo de patentes e à
pilhagem cultural e histórica: lições de um salteador da moda
|
Sobre números árabes, Universidade de Nalanda,
Backus e Panini |
Dos confins do inferno ao modelo global: a marca
da alta-tecnologia nas vidas em que toca |
Por detrás dos debates de Soma-Nula e de
Elefantes Brancos |
Mais uns «cobres» para o big bangda banda
larga |
Soluções made in Indiapara o mercado
digital mundial |
Para além do Terceiro Mundo… |
Os novos advogados da globalização: os mil
milhões de accionistas indianos |
A crescente sucção para baixo |
Mais igual que os outros: realizando as contas a
desigualdade indiana |
mundo acorda para a nova realidade
|
O secularismo indiano: um mundo em denegação
|
A mensagem do milagre… |
… O seu desafio e a sua promessa |
Uma lição da Índia para o mundo |
O imperativo moral de aumentar o bolo
|
Globalização 2.0 |
CAPÍTULO 7 |
DA BOLHA AO ESTOIRO
|
Identidade: nós e os outros…. |
... e os que ficam de permeio |
Quando é que uma empresa é efectivamente
norte-americana? |
...ou europeia, se isso for relevante?
|
Saindo das escuras e demoníacas fábricas
britânicas |
A questão vai para além das dot-coms e
das TI |
O preconceito ocidental nos media
|
Dar e receber: recebendo os dividendos do cheque
pós-datado |
O céu é o limite? Não, mas… |
Salários e custos: mistério ou contabilidade
criativa? |
Qual perspectiva: Índia barata ou Ocidente caro?
|
Exploração e paridade de poder de compra
|
Consequências económicas da deslocalização
|
A geopolítica da deslocalização |
Viver e nivelar – quem paga o preço?
|
CAPÍTULO 8
|
PREPARANDO A NOVA ERA DA GLOBALIZAÇÃO
|
Trabalhadores das TI |
Governos Ocidentais
|
APÊNDICES
|
Apêndice 1 – Mapa da Índia |
Apêndice 2 – Radiografia da Índia |
Apêndice 3 – Sítios na web úteis (em língua
inglesa) |
Autor
Ashutosh Sheshabalayaa, 47 anos (nascido em 1959), está
radicado no coração da União Europeia desde os anos 1980. Começou a sua carreira
como correspondente da agência de notícias indiana Press Trust of India
para a Comunidade Europeia, em 1982-1985, e casou com uma belga. Com base nesse
posicionamento estratégico em Bruxelas, foi consultor da Missão Japonesa na CEE
nos anos 1980. Foi, ainda, analista da Frost & Sullivan e chegou mesmo a ser
consultor sénior na Price Waterhouse entre 1988 e 1991. Entre 1991 e 1994,
dirigiu o Departamento de Comunicações da Federação da Indústria Farmacêutica
Europeia. Em 1999, desempenhou um papel no lóbi junto do Parlamento Europeu para
inclusão de três emendas na cooperação tecnológica com a Índia ao abrigo da
Parceria União Europeia-Índia. Criou, entretanto, a Allilon, uma start-up
especializada em consultoria em Tecnologias de Informação, e actualmente
dedica-se à consultora Índia Advisory (www.india-advisory.com).
Tosh (diminutivo) ficou conhecido internacionalmente aquando de um volumoso
relatório (243 páginas) premonitório sobre a emergência da Índia do software,
publicado em 1997, em Nova Iorque. O que o levou a publicar, nos EUA, uma série
de relatórios sobre a nova potência emergente, alguns anos antes da Goldman
Sachs ter falado dos «BRIC» e catapultado a Índia, bem como a China, Rússia e
Brasil, para o foco do interesse dos políticos e dos media. Continua a
colaborar, nos EUA, em matérias de geopolítica com o think tank Globalist e com
o Center for the Study of Globalization da Universidade de Yale.
Em 2004, publicou a sua obra de fundo sobre a Índia – Rising Elephant – na
editora norte-americana Common Courage Press, que depois seria reimpresso na
Índia, pela Macmillan, em 2005, e agora publicado na Europa, numa adaptação em
português pelo Centro Atlântico.
Tosh licenciou-se em economia e política pela Universidade de Berhampur (no
Estado de Orissa) e estudou no Birla Institute of Technology and Science. Chegou
a entrar na Brandeis University nos Estados Unidos, mas decidiu-se por uma
carreira de jornalismo e veio para Bruxelas. A família Sheshabalaya é conhecida
na Índia por ter um escol de quadros superiores da administração pública,
ministros, governantes, diplomatas, juízes, académicos e artistas. Os pais foram
vice-reitores de universidades
Comentários
Despertar do Elefante
O livro 'Made in Índia', de Ashutosh Sheshabalaya, é uma verdadeira
enciclopédia das deslocalizações e dos investimentos estrangeiros
canalizados para a Índia nos últimos três anos. Logo na introdução, o
autor
passa em revista os "8 mitos relacionados com o despertar do elefante",
contrapondo os factos que estão na origem das deslocalizações e da
sangria
de postos de trabalho no Ocidente, e profetizando uma Índia grande e
poderosa para o século XXI. A par da China, naturalmente, a potência que
não
convém esquecer: "a China e a Índia rivalizarão entre si para destronar
a
América".
Expresso, 18 de Novembro de 2006
O autor lembra que, mais do que qualquer outro país,
a Índia está a usar as capacidades e competências dos seus trabalhadores
para entrar na liga das nações tecnologicamente avançadas, em vez do
trabalho barato ou os recursos naturais, o que faz com que qualquer
empresa de alta tecnologia, desde a Intel à Google, esteja a caminho do
país em busca de inovadores.
A revolução do conhecimento está também a influenciar a classe média,
que terá nesta altura um número estimado em 300 milhões.
O Jornal Económico (OJE), 5 de Dezembro de
2006
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