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Gestão e Estratégia na Net
O inimigo público da InternetO monopólio das infra-estruturas de telecomunicações é criticado num estudo comparativo entre os países da OCDE divulgado agora na Web. Conclui-se que onde impera a concorrência há em média, cinco vezes mais ligações à Internet. A INTERNET parece não gostar dos «ambientes» de monopólio ou quase monopólio em termos de infra-estruturas de telecomunicações. Os últimos estudos comparativos desenvolvidos pela OCDE vêm confirmá-lo. À cabeça da difusão da Internet (Net) estão os países que, no mundo, promoveram a concorrência a nível infra-estrutural e inovaram em matéria tarifária, no âmbito de uma política de rápido posicionamento estratégico dos seus cidadãos e das empresas nesta rede de redes, segundo um relatório daquela organização internacional, agora, divulgado na World Wide Web (Web). Daí que recomende o fim desses monopólios, permitindo a entrada no negócio de outros operadores infra-estruturais, como, por exemplo, as TV por cabo ou as empresas de energia. São os pequenos países nórdicos que, na Europa, têm maior densidade de ligações à Internet (Net), situando-se, também, em posições cimeiras à escala mundial, segundo os últimos dados apurados pela OCDE, num estudo agora disponibilizado na Web sob o título «Convergência e tarifação das infra-estruturas de informação» (pode ser obtido em inglês a partir da consulta em http://www.oecd.org/dsti/sti_ict.html).
A geografia da Net em termos de «nós» («hosts», computadores hospedeiros que suportam múltiplos utilizadores) por habitante é dominada internacionalmente pela Finlândia e a Islândia, com mais de três «nós» por cada 100 habitantes, o que equivale a mais de duas pessoas ligadas em cada dez (aplicando o multiplicador sete, definido para esta conversão por aquela organização internacional). Em posições próximas encontram-se a Noruega, a Suécia, a Suíça, a Holanda e a Dinamarca, na Europa, com indicadores acima da média global da OCDE, e, noutras paragens do globo, o bloco Estados Unidos/Canadá e Austrália/Nova Zelândia. O nosso país encontra-se na parte final da lista, numa posição similar à da Grécia, com uma densidade que é inferior a 1/10 da média da OCDE. Mas o que mais intrigou os especialistas da organização foi a enorme disparidade existente no seio da própria Europa e Ásia desenvolvidas, com diferenças abissais, por exemplo, entre a densidade na Finlândia e na Itália (o país dos lagos tem uma cobertura relativa quase 40 vezes superior à «bota» mediterrânica), ou entre a Austrália e o Japão (o arquipélago do Sol Nascente está cerca de nove vezes atrás em relação ao continente do canguru). Averiguar as razões destas diferenças tão marcantes em países com um desenvolvimento capitalista semelhante foi o objectivo do relatório, que, segundo Sam Paltridge, um especialista daquela organização envolvido no estudo, aponta para uma constatação incontornável: «Os oito países da OCDE com as mais baixas proporções de «nós» da Net levantam numerosos problemas ligados às tarifas, à disponibilidade de infra-estruturas e ao risco de políticas anticoncorrenciais. A Internet não gosta de monopólios. O número de utilizadores aumenta sempre que as políticas nacionais de telecomunicações favorecem uma larga abertura à concorrência». Pontos de acesso virtuaisO relatório quantifica essas diferenças de política, que são, naturalmente, suportadas pelos bolsos dos utilizadores e pela conta das empresas e das instituições. Segundo o estudo, «há, em média, cinco vezes mais "nós" da Net nos mercados concorrenciais, e este fosso continuou a alargar-se nos últimos cinco anos». Em termos de preço anual médio para uma linha alugada, este é 44 por cento mais barato nos países sem monopólios. Se avaliarmos em termos de acesso por conexão comutada (através da rede telefónica por «modem»), o preço por hora de utilização é três vezes superior onde não há concorrência a nível de infra-estruturas. A situação é, ainda mais penosa se tivermos em conta que, nos países com telecomunicações de tipo monopolista, as tarifas de longa distância praticadas a nível inter-regional são elevadas, o que desencoraja o uso da própria Net, o teletrabalho, a saída das empresas para fora dos centros urbanos e outras medidas de reorganização empresarial e da vida profissional. Um dos exemplos inovadores que o relatório aponta é o do Reino Unido, que conseguiu quebrar a lógica das tarifas referida. «Os acordos concluídos, neste país, com os operadores de serviços de longa distância no sentido de encaminhar o tráfego para as suas instalações, permitiu aos fornecedores de acesso à Net oferecer ‘pontos de acesso virtuais’ aos seus assinantes. Mesmo se estes não residem na mesma circunscrição telefónica, não necessitam de pagar as comunicações de longa distância para se conectarem. De qualquer ponto do país, o assinante em causa pode aceder à Net pelo preço de uma chamada local», sublinha Paltridge. Gestão e Estratégia na Net é uma coluna na net.News da responsabilidade de Jorge Nascimento Rodrigues - Jornalista e Autor de diversos livros sobre Gestão e Estratégia.Publicado no Expresso de 17/Agosto/1996, com autorização do autor. |